Jerônimo Pires traz consigo
a palavra ‘dedicação’ como referência a uma de suas qualidades. Vocalista de uma
das bandas mais antigas de Thrash Metal de nossa capital, Fortaleza, também faz
trabalhos de informação ao cenário underground enquanto música –, mas os
trabalhos com a AGONY e sua veia jornalística parecem não satisfazer o
seu desejo pela qualidade à cena local, pois também segue em frente com outro
projeto e, talvez, o que esteja mais lhe agradando atualmente, chamado ‘Black
Massess'. Com a palavra, o ‘Workaholic’ do Metal cearense:
Carla Silvino
Rock
– CE: Dezoito anos na estrada é um tempo bom para o amadurecimento de um
cenário como o de Fortaleza. Como vive o seu orgulho sabendo que você faz parte
da história desse crescimento?
Jerônimo Pires: Tenho orgulho de ver o crescimento do cenário musical Heavy em nossa cidade, temos hoje muitas bandas relativamente novas que fazem um trabalho soberbo em níveis de profissionalismo e organização. Apesar de a AGONY ter iniciado em 1996, houve uma pausa entre 2001 e 2006 aproximadamente, que foi quando fiz uma banda de Hard n' Heavy chamada METAL MESSIAH, mas em relação à AGONY a mesma apesar de tudo, sempre se tratou de uma banda descompromissada no que tange organização, tivemos momentos relevantes, mas nunca conseguimos ser consistentes no cenário. Porém tenho orgulho de estar ao lado de caras que considero irmãos por tanto tempo fazendo o que gostamos e de forma despojada e sem pressão, acredito que este é o grande espírito envolvido neste trabalho.
Rock
– CE: Esse período que compreende 1996 era uma fase emergente para o Metal de
Fortaleza que começou em 1994, praticamente. Foi quando começaram a surgir
grandes eventos com nomes nacionais na capital cearense. Logicamente a banda
fez muitas apresentações, quais foram as que tiveram mais destaque?
Jerônimo: Sem dúvida neste período houve um verdadeiro "Big Bang" em nossa cidade, foi quando tivemos uma eclosão absurda de bandas novas, novos espaços e bandas de fora tocando com uma boa periodicidade, me recordo que logo neste início, precisamente em 1997, fomos convidados para abrir o show das bandas TERRORZONE de Natal (RN) e MEGAHERTZ (PI), e particularmente eu achava esta turma os mestres do Thrash no Nordeste ao lado do AVALON (PI), inclusive eu possuía o split deles lançado pela Cogumelo Records em 89, gravado por estas duas últimas bandas oriundas de Teresina. Neste Período os shows eram logicamente desprovidos de recursos mais elaborados como iluminação, camarim, estrutura de palco como vemos um pouco melhor hoje em dia, mas destaco um marco importante para a banda que foi a sua participação no 1° Forcaos realizado em 1998 no Centro Cultural Dragão do Mar e também o lançamento do CD "Overcasting" da OBSKURE realizado em um ponto que se tornaria na época, um dos mais freqüentados pelos Bangers da cidade, no caso, o saudoso Casarão Cultural, que se localizava no centro. Claro que, dentre os shows que já tocamos eu destacaria os eventos em que fomos "Open Act" para algumas grandes bandas nacionais além das citadas anteriormente, como os com o: KORZUS, VIPER, ANDRALLS, HANGAR e, recentemente, as internacionais: ENFORCER e SKULL FIST.
Carla Silvino
Rock
– CE: Ainda existe algum exemplar do primeiro registro, Breaking The Silence (1999)? Aonde foram gravadas as suas quatro
faixas?
Jerônimo: Olha, honestamente eu não possuo este trabalho que apesar de ter seu valor e relevância no sentido documental, não me agrada musicalmente e esteticamente. Tudo era novo para mim, pois eu tinha findado uma banda de Heavy Metal a qual me agradava muito e de repente me encontrava sendo convidado para um trabalho "Thrash", a minha "vibe" sempre foi mais "Heavy" mesmo e, a princípio, eu recusei, pois não tinha interesse... mas como os caras eram e são ainda muito meus amigos – resolvi topar o esquema apesar de meu estilo de cantar enveredasse na onda do "Thrash" de bandas como ANTHRAX, VIOLENCE, FORBIDDEN, OVERKILL que possuem vocais mais "clean" e agudos, percebia uma certa rejeição por parte de alguns bangers que curtiam mais o Thrash com vocais guturais, com mais drives e tal, embora eu nunca tenha me "rendido" às reclamações, continuei fazendo ao meu modo, o que julgo um diferencial. Mas voltemos à gravação, era muito cômica a situação, pois o "produtor", se é que podíamos chamar assim, nunca tinha trabalhado com bandas do estilo, ele fazia uma coisa e depois dizia que tinha se esquecido de como fez, fala sério hein? Eu queria fazer duas vozes em umas partes, só que não tinha a menor noção de como fazer, sem contar que estávamos perdidos musicalmente, pois cada um tinha um estilo para colocar no trabalho... resumindo, realmente a única faixa aproveitável para mim é a que até hoje tocamos chamada, "The Maniac" que teve sua continuação no trampo gravado em 2011 na faixa "Dead Man In A Dead World" onde o destino do algoz criado no início da banda é selado para sempre, porém nunca tinha revelado isso... nem para os caras da banda (risos), as outras faixas teriam que ter uma roupagem bem diferente do que tentamos fazer naquele período. Para finalizar este tópico fica a dica para as novas bandas: nunca façam trabalhos com produtores que nada conhecem sobre música pesada... Keep Out!
Rock
– CE: Em 1999 a banda passou por um momento muito difícil que foi a morte do
baterista Roudinele Prado. Ele chegou a compor material para a demo A Second Sign (2000)?
Jerônimo: Verdade, foi uma situação muito difícil mesmo, pensamos seriamente em terminar com a banda, mas neste período estávamos muito ligados ao pessoal da ACR (Associação Cultural do Rock) – tinha o Amaudson (N.R.: Ximenes, presidente da ACR e guitarrista do Obskure), o Ricardo, o Mario Vigia, o Ivo que é um grande irmão e algumas meninas que andavam conosco que nos deram muita força e incentivo, enfim, resolvemos continuar, mas não foi fácil, tínhamos feito um show na semana anterior ao ocorrido e o "Loiro" (Como chamávamos o Roudinele), alegou não suportar mais tocar por não estar se sentindo bem, tinha alegado estar com uma virose e evidentemente que concordamos e terminamos a apresentação sem executar todo o set... uma semana depois veio a notícia que o cara tinha falecido vitimado por meningite em um estágio que não dava mais para tratar. Muito lamentável pois ele tinha evoluído muito musicalmente desde que começou a tocar conosco, o show que fizemos no Dragão do Mar em 98 era a estréia dele na banda e dava pra perceber que o cara não tava seguro, porém se compararmos o desempenho dele neste que foi o seu último, foi notório seu desenvolvimento nas baquetas e isso certamente era reflexo de se fazer o que se gosta e gostar do que se estar fazendo, sem contar que o cara era uma pessoa formidável, não me restam dúvidas que ele ainda estaria conosco se não fosse por esta trágica fatalidade.
Rock
– CE: Como surgiu o convite da entrada da banda para a coletânea Rock Soldiers Vol. 5?
Jerônimo: Neste período nossas redes sociais eram os correios e através de uma carta o idealizador do projeto: Marivan Ugoski fez o convite para participarmos desta empreitada. Foi um canal mais amplo de divulgação que tivemos, e em princípio não tínhamos referências sobre o significado de participar de coletâneas, particularmente gostaria de ter participado de mais algumas e também mais focadas no estilo em questão. Não tive muito retorno e as resenhas que vi em revistas foram muito superficiais, só vi uma em um blog que não me recordo mais, que inclusive foi o Mailson (SKIN RISK) que me mostrou e nesta o cara colocou o nosso trabalho "lá em cima", cotando como o melhor apresentado nesta edição. Das bandas lá presentes acho que as que mais curti foi o som Thrash do DOYKOD da Bahia e a banda Death CLAWN que acredito que sejam as únicas também na ativa.
Felipe Maia
Rock
– CE: Depois disso a banda só veio registrar em 2011 com o lançamento de outra
demo, Thrashers United. O título
parece sugerir um apelo e a capa reforça esse pensamento. Pode comentar sobre
essa composição?
Jerônimo: O título fala por si, a idéia andava martelando a minha cabeça e pensava também em como seria a concepção da capa, a qual tinha que transmitir algo inerente ao título. Pensei no início em um brasão lembrando a capa do "Blazon Stone" do RUNNING WILD, mas se eu fizesse isto estaria incorrendo ao erro do passado em aproximar o som da banda para algo mais "Heavy", o momento aqui é o que queríamos e deveríamos ter feito, ou seja, ser Thrash/Speed, então certo dia saí com alguns amigos e a Cecília, amiga de longas datas estava conosco e ela tem uma espécie de mural de logos de bandas de nosso cenário tatuados em suas costas, inclusive o nosso, foi aí que tive o "insight" para esta criação, uma curiosidade é que os backing vocals lembram um pouco a faixa "Thrash Metal" da banda NECROMORTEN, um fato curioso do qual faço questão de enfatizar como reforço em celebrar a união das bandas de nosso cenário que é o propósito e essência desta música e deste trabalho. A gravação ficou bem crua, pois foi basicamente gravada ao vivo, exceto os solos e a voz que foram posteriormente sobrepostos. A sonoridade apresentada neste trabalho traduziu o que sempre queríamos fazer e me deixou bastante satisfeito à exceção da afinação que neste trabalho ainda permaneceu em "Mi' e em nosso novo norteamento agora será meio tom abaixo em "Mi Bemol", fato que só entramos em consenso após a gravação.
Rock
– CE: O elenco da banda mudou desde a gravação de Thrashers United?
Jerônimo: Apenas o baixista foi substituído. Na gravação estávamos com o Léo (ex-AGRESSIVE) no baixo e hoje estamos com o meu amigo e irmão Milson Feitosa que também toca comigo em um trabalho cover do MERCYFUL FATE além de recentemente ser efetivado nas quatro cordas da excelente banda Hard n' Heavy, FIRELINE do meu nobre amigo André "Guitar Master" Rodger.
Rock
– CE: Projetos seus de diversas áreas da música como, esta banda tributo e
também da comunicação, têm levado a AGONY a reduzir suas apresentações. Como
está a difícil tarefa de priorizar a agenda?
Jerônimo: Carlos Vândalo escreveu certa vez: “Fazem necessário que não tenhamos nenhuma paz, porque a alma descansada não brilha jamais." é realmente isto que penso e vivo. Não me consigo ver parado ou sem estar focado em trabalhos que me dão prazer e rentabilidade (pena que no Metal este último substantivo não se enquadre), mas sempre estou com novas idéias, estudando, me renovando e me aprimorando. A BLACK MASSESS é um trabalho muito prazeroso e tentamos ser precursores no país como cover do Mercyful Fate, sempre estamos trazendo algo que enriqueça nossas apresentações, sou particularmente muito fã da obra de King Diamond como um todo, então as caracterizações, performances, apetrechos de palco... tudo é feito com muito cuidado e atenção aos detalhes. Já o trabalho na página ‘Blitz Metal’ que se iniciou como uma ‘Web Rádio’ e hoje está essencialmente no campo da informação, também me traz resultados prazerosos, pois vejo que as pessoas são carentes de informações consistentes, e o Metal precisa ter esta abordagem séria que vejo sendo feito pelo Clinger Carlos lá de Minas, que tem o programa ‘Heavy Metal On Line’ – tem também o Alex Chagas do selo ‘Black Legion Prod’, que sempre está fazendo algo consistente e pertinente para o fortalecimento do cenário Metal nacional. Um fator que muitas vezes me impossibilita de estar fazendo algo mais é o tempo que fica estrangulado, então as postagens em momentos diminuem, mas tento manter uma periodicidade para deixar o pessoal informado sobre novidades – tem as resenhas maravilhosas do Anderson Frota que colabora na pagina de forma muito rica e contundente. Acredito que muitas vezes as pessoas devem pensar: “este cara não tem o que fazer e passa o dia postando as fotos da Lady Evil, que é a Cleusa Ribeiro, uma amiga de Florianópolis e uma grande banger, dando bom dia, boa tarde e boa noite empunhando um grande clássico Heavy em suas mãos?” (risos), mas o que não sabem é que muitas delas são programadas numa noite de sábado ou em um domingo à tarde (risos). Mas enfim, a gente luta com as armas e recursos que temos à disposição, mas realmente o tempo é um inimigo que na maioria das vezes me faz ter que saber o que priorizar e o que colocar em segundo plano.
Daiana Carla
Rock
– CE: O que você está achando da atenção que o Metal cearense está tendo na
mídia especializada nacional? Cada vez mais grupos da capital, Fortaleza e fora
dela, estão provando de reconhecimento por seus valores.
Jerônimo: Eu encaro isto com muita alegria, pois como disse anteriormente, o trabalho que o pessoal está fazendo aqui está ficando cada dia mais profissional e sem dúvida este reconhecimento e atenção que estão despertando na mídia é o reflexo disto. É o princípio da causa e efeito. As bandas estão fazendo um grande diferencial e existe um ótimo suporte feito por parte de competentes profissionais do ramo audiovisual que estão produzindo vídeo clipes e ensaios fotográficos primorosos dando um tom muito mais profissional ao trabalho das bandas em nossa cena.
Rock
– CE: Deixe o seu recado aos fiéis seguidores da AGONY, muito obrigado pela
entrevista.
Jerônimo:
Agradeço
aos amigos e todos que apreciam nosso trabalho musical que embora seja simples,
mas não simplório, tenha conseguido sobreviver durante tanto tempo, mesmo com
suas adversidades, em um cenário que na maioria das vezes foi tão instável e que,
a meu ver, começa a ganhar seu melhor momento agora, tanto em relação ao
público como também na qualidade de novas bandas e espaços mais atrativos que
proporcionam um suporte adequado ao trabalho musical como um todo. Eu agradeço
pelo espaço concedido, forte abraço e força!
Contato: www.facebook.com/agonythrash?fref=ts
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