segunda-feira, 13 de julho de 2015

Euronymous - vida e morte de um mito


O guitarrista Øystein Aarseth foi um jovem norueguês que viveu na cidade de Oslo, capital daquele país. Durante seus 25 anos de vida, ele conseguiu se transformar em uma das pessoas mais emblemáticas daquela região e da cultura do Metal Extremo como um todo. Øystein era adepto do Satanismo Teísta que, diferente do apregoado por Anton LaVey, tem Satan como uma divindade real, não apenas como símbolo de individualismo. “Eu acredito em um demônio, um Satanás em pessoa. Em minha opinião todas as outras formas de satanismo são deboche”, disse em entrevista à revista ‘Kill Yourself!’ dias antes de sua morte.


Além de praticante de sua crença, ele também era um estudioso e apoiador de leis totalitárias, sendo que em certo período de sua vida, foi filiado ao ‘Rød Ungdom’, ala juvenil do ‘Partido Vermelho da Noruega’. Após dar-se conta de que o grupo era formado por militantes humanistas, tratou de pular fora, pois isso não condizia com sua ideologia misantrópica. Admirador de nomes como Joseph Stalin, Pol Pot e Nicolae Ceaușescu, não demorou muito a canalizar uma personalidade similar a desses líderes dentro do movimento Black Metal, assim como no grupo radical que ele ajudou a criar, o ‘Inner Circle’.

O livro ‘Lords of Chaos: The Bloody Rise of the Satanic Metal Underground’, descreve Øystein Aarseth como um homem “sempre vestido de preto até os cabelos que eram tingidos. Ao falar, parecia severo em seus tons graves, com pompa às vezes beirando o teatral”. A pesar de sua posição política definida, Aarseth nunca se preocupou em propagá-la em sua música. Amigos mais próximos o descrevem de forma contrária da imagem perpetuada no decorrer desses anos. O baterista KJETIL MANHEIM no documentário ‘Once Upon a Time in Norway’ o descreve como uma pessoa que teve bom relacionamento com a família e amigos e era um aluno sempre aplicado na escola, não bebia nem fumava. Em conformidade às palavras de Manheim, um dos primeiros companheiros de banda, o vocalista EIRIK “MESSIAH” NORDHEIM em outro trecho do filme, afirma ter conhecido um lado diferente do músico, o lado “carismático, divertido e até falastrão, oposto à imagem passada através da mídia.”

O jovem Øystein Aarseth

 Em 1984 Øystein adotou o pseudônimo de “Destructor” e, junto com Manheim e o baixista Jørn “NECROBUTCHER” Stubberud, formaram o MAYHEM. Atraído por assuntos mitológicos e também influenciado por uma música da demo ‘Satanic Rites (1983) do HELLHAMMER, mudou o pseudônimo para EURONYMOUS, reverenciando o demônio da mitologia grega, Eurynomos. Em 1986 eles lançam o primeiro registro, ‘Pure Fucking Armageddon’ e, no mesmo ano, se juntam a integrantes da banda alemã ASSASSIN – MARKUS LUDWIG, MICHAEL HOFFMANN e ROBERT GONNELLA, formando o grupo de Thrash Metal, CHECKER PATROL –, dessa união foi lançada uma demo, ‘Metalion In The Park em dezembro. Em 1987 o Mayhem lança o EP ‘Deathcrush’ –, eles costumavam passar dias em uma cabana no bosque compondo e ensaiando; em 1988, Per "DEAD" Ohlin chega pra ser vocalista da banda, mas não consegue harmonizar-se com Euronymous devido a diversas diferenças. Certa vez, DEAD não suportou as músicas eletrônicas que o guitarrista ouvia constantemente e saiu à noite para dormir na floresta, no mesmo instante Euronymous foi para fora com uma arma disparando para todos os lados. No final dos anos 80, Euronymous disposto a difundir com mais intensidade a música Black Metal em seu país, fundou o próprio selo ‘Deathlike Silence Productions’ que acabou por se tornar a primeira gravadora especializada no assunto. Em pouco tempo, bandas da Noruega como BURZUM e ENSLAVED assinaram com o selo para lançar seus trabalhos, bandas da Suécia como ABRUPTUM e MERCILESS também passaram a procurá-lo para fins de lançamento, assim como o SIGH do Japão. Euronymous que não tinha intenção de agregar grupos não noruegueses acabou cedendo a essas bandas.

Dead e Euronymous

 A personalidade do guitarrista deu origem a várias lendas, e uma delas surgiu no dia 8 de abril de 1991 quando Dead cometeu suicídio cortando os pulsos com uma faca e atirando na própria cabeça com uma espingarda. Euronymous foi quem encontrou o corpo e, aproveitando a ocasião, tratou de comprar uma câmera fotográfica para fazer várias fotos do cadáver. Sobre esse episódio, Necrobutcher contou que recebeu uma ligação de Euronymous no dia seguinte informando-o do suicídio de maneira bem sádica. “Dead fez uma coisa muito legal, ele se matou!”, disse ele ao baixista que não entendia porque aquilo seria legal, então tiveram uma discussão que resultou na saída de Necrobutcher do Mayhem. Ao final da conversa Euronymous ainda disse: “Relaxe cara, eu tenho fotos”. A partir dessa época surgiram boatos de que ele teria pegado algumas partes do crânio esfacelado e guardado consigo. Também surgiu uma conversa de que ele teria cozinhado e comido partes do cérebro do ex-colega. Sobre o ato de canibalismo a banda nega que tenha acontecido, mas confirma que ele passou a utilizar pedaços do crânio humano em um colar. Uma das fotos virou capa de um ‘bootleg’ ao vivo chamado 'Dawn Of The Black Hearts' (1995). Dizem também que a faca usada por Dead foi posta pelo próprio Euronymous ao lado do corpo para dar um ar mais chocante à cena.


Em junho de 1991, o guitarrista abre um novo negócio, a ‘Helvete’, uma loja de discos situada em Oslo onde em seu porão eram realizadas reuniões com vários músicos da Noruega incluindo membros do Mayhem, EMPEROR, THORN e VARG VIKERNES, criador do Burzum. Frequentador assíduo da loja, Vikernes conquistou a confiança de Euronymous e este o chamou para ser baixista do Mayhem e ainda se dispôs em lançar o álbum do Burzum pela Deathlike Silence. Com o passar do tempo essa amizade foi virando uma espécie de rivalidade entre os dois. BÅRD FAUST, baterista do Emperor e, na época funcionário da loja, comentou sobre isso: “Parecia bobo, mas eu acho que havia uma disputa entre eles para definir quem seria mau mais que o outro, mas eu via muita fumaça e nenhum incêndio”, no dia 10 de agosto de 1993, Varg foi ao apartamento de Euronymous onde discutiram feio até acabar na morte do líder do Mayhem que foi esfaqueado 23 vezes por Varg. Os golpes atingiram a cabeça, pescoço e costas do músico. No site do Burzum, Vikernes confessa o crime: “Foi interessante ver como algumas pessoas sentiram a necessidade de inventar histórias sobre o motivo que me levou a matar Euronymous. Agora o triste é ver essas pessoas criarem uma verdade conveniente pra elas sobre o fato”. O réu foi condenado a 21 anos de prisão por esse crime e por incendiar igrejas cristãs. Cumpriu 16 anos em regime fechado e ganhou a liberdade condicional em 2009. O ‘debut’ do Mayhem, 'De Mysteriis Dom Sathanas' foi lançado em 24 de maio de 1994 com Vikernes creditado no baixo mesmo sem o apoio da família de Euronymous.

Varg Vikernes e Euronymous



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